UMA SEMANA DE LUTA E RESISTÊNCIA


 por Bruno Lima Rocha

O Brasil está diante do maior ataque contra os interesses populares e o conjunto de direitos adquiridos através da CLT e a legislação trabalhista consagrada pelo varguismo-trabalhismo. Sempre temos de recordar num momento como o atual, que estes mesmos direitos trabalhistas foram fruto de 40 anos de luta sindical ilegalizada, quando “a questão social era um caso de polícia” e sequer tínhamos no Brasil uma base salarial universal. Com quatro décadas de luta, Vargas termina o trabalho sujo de Arthur Bernardes e reprime e isola o anarquismo na base sindical brasileira. O Partidão (PCB, linha de Moscou), passara de rival de Vargas a seu aliado já no início da década de ’40. Assim, o reposicionamento de Vargas com o trabalhismo e os interesses da massa sindicalizada tornara-se o paradigma dos trabalhadores nacionais. Logo, atacar a CLT é bater no fígado da classe trabalhadora, o que acarretou – ainda que tardiamente – uma resposta com poder de resistência e aglutinação, temporariamente sob comando da centro-esquerda sindical (CUT e CTB).
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O certo é que a agenda conservadora dentro e fora do governo está abalando lealdades e prioridades. Reforço essa ideia com a seguinte constatação.

“QUE DANA-SE O LEVY!” Esta foi a afirmação literal do canoense e senador ainda petista Paulo Paim no Programa Esfera Pública (Guaíba AM/FM, de 16 de  abril de 2015) dizendo que não vota a favor das MPs 664 e 665, que vai para a tribuna para barrar a conta salgada do ajuste em cima da classe trabalhadora e se a MP for aprovada, ele «sai do partido». Pelo andar das carroças, pelo visto o PSOL pode vir a ganhar um novo senador. Fica também a minha crítica pela escorregada do ex-sindicalista. Paim usou do argumento de tipo Tenório Cavalcanti (“eu não sou cumunista, eu num sô fascista, eu só é homi”) para dizer que «não estava nem aí para esquerda, direita ou centro», queria mesmo era defender os trabalhadores. Ou seja, ao afirmar que está acima das ideologias o pelo visto quase ex-petista escorrega perigosamente rumo ao senso comum embora mantenha uma coerência admirável na relação com sua base eleitoral direta. Por fim, vale constatar que o PL maldito 4330 não deve passar no Senado. Ufa! Vale a força das ruas e do que resta da ESQUERDA neste país. A evidência não deixa margem para dúvidas: se a patronal é a favor, como deixar de ser contra?!”

Para refletir após o impacto diminuto dos protestos de 12 de abril

Dessa vez os protestos da direita ideológica foram menos intensos embora tenham ocorrido em mais localidades, passando de 150 para 500 municípios. Houve uma quebra da prerrogativa moral por parte do Lacerdismo Pós-moderno diante da Operação Zelotes, que vem a reforçar o escândalo do HSBC (Swissleaks) e o retorno da Lista de Furnas (quem se lembra da broma? “Quem com Dimas fere com Dimas será ferido!”). A pesquisa de rejeição da presidente Dilma manteve o mesmo índice, passando de 65% os que entendem a necessidade abrir um processo de impeachment contra a mandatária, embora reconheçam que não há fato e nem possibilidade jurídica.

Na verdade o efeito está invertido. O discurso da fraude eleitoral cola mais por esquerda – já que Dilma fez campanha desenvolvimentista e classista e governa por direita – e termina por ficar em segundo plano diante do parlamentarismo branco (eu diria quase que um governo de fato) e a agenda conservadora sendo despejada em parte por chantagem contra o Executivo, e em parte por convicção mesmo. O problema é que tanto a direita ideológica (a neoliberal de linha chilena e os defensores da intervenção militar), como a direita política que não está no governo como a direita política que é governo apontam para o mesmo lado. A saída para este problema fica para o médio prazo. É tamanha a ofensiva conservadora que toda a energia será gasta para não permitir o avanço do retrocesso conservador, começando pelo maldito PL 4330. E, reafirmando a profecia anunciada, se Dilma não vetar o artigo da terceirização de atividade-fim, é o término de seu triste governo de centro-direita.

Mataram o lide no telejornalismo pró-Lacerdismo

O destaque do domingo dia 12 de abril ficou para o triste papel da Mídia empresarial: a direita ideológica é retro-alimentada pelos maiores grupos de mídia e seus clones de Lacerdas pós-modernos. Como era o apelido do ex-deputado federal pela UDN, o Corvo e seus seguidores seguem famintos e reproduzindo o mesmo modus operandi.

Ao longo do dia de domingo 12/04, a Globo matou e desapareceu com o lide na cobertura jornalística. Não havia um sujeito da ação, ninguém pergunta quem está organizando a parafernália pró-impeachment e sequer fazem as perguntas básicas aplicadas no manual de redação jornalística (só mostram o Onde, Quando e O Que; mas Para Quem, Com Quem, Porque e Como, não aparecem). Se fossem estudantes em uma cadeira de redação 1, Ali Kamel e sua trupe seriam todas e todos reprovados. Não há um contraditório sequer e nem tampouco houve transmissão de história de vida pregressa dos protagonistas ou líderes dos protestos da direita ideológica. Insisto na tese: sem o apoio do aparelho ideológico midiático, estes protestos de tipo lacerdistas e convocados através de linguagem publicitária não teriam massificado e sequer adquirido a suposta legitimidade.

O cenário político no Planalto é o front da direita dentro do governo. “O golpe real e o parlamentarismo branco!” A afirmação acima é de autoria de Rodrigo do Ó, trabalhador bancário, intelectual autodidata e um militante carioca bastante conhecido nas redes sociais alternativas. Sua síntese analítica impressiona pela lucidez e a compartilho aqui: “o golpe real é a parlamentarização de facto. Como isso já está sendo feito, as manifestações se esvaziaram e o peso da ultra irredentista saudosa da ditadura cresceu. Agora fechou o terceiro turno, temos um governo PMDB-PSDB com a Dilma como Rainha da Inglaterra. À nossa frente, a luta contra a terceirização e o norte estratégico de reconstruir o movimento de massas e a esquerda”. Nada a acrescentar a não ser concordar com Rodrigo.

Apontando para conclusões parciais

O que vale a pena ser debatido é como após 12 anos de governo de suposta centro -esquerda chegamos a este nível de retrocesso ideológico? Eu diria – como pista – a derrota ideológica da própria ex -esquerda que chega ao Poder Executivo já sem vontade de disputar poder social na base e mais reproduzindo do que transformando. O padrão de alianças e a formação de maioria a qualquer preço (literalmente) indica a chave de interpretação.

O duplo discurso é a regra de sobrevivência da centro-esquerda. No programa Esfera Pública – programação que vem pautando o debate político na província de São Pedro – da Rádio Guaíba (AM/FM, de Porto Alegre) – datado de 14 de abril de 2015 – foi possível constatar o óbvio. Ao escutar o Ari Vanazzi falar (presidente estadual do PT RS) parece que a Articulação de Esquerda está pedindo ingresso no PSOL. É a velha lengalenga da Consulta Popular só que agindo por dentro do aparelho partidário. O discurso é dúbio e polissêmico, usam o Gramsci como tábua de salvação porque a leitura do ex-deputado italiano também cria um discurso de guerra de posição o tempo todo. Cada movimento, por mais execrável que seja, cabe dentro de um constante câmbio de movimentos e ocupação de lugares-chave nas estruturas dominantes. A obviedade nos diz que assim mais se reproduz do que se transforma a sociedade. E, pior, reforça a condição de reprodutor das piores práticas, haja vista o atual e o ex-tesoureiro nacional da legenda de Lula e José Dirceu.

O PT parece o PSOE espanhol, só que governando ao lado dos franquistas mais corruptos (o PMDB real) diminuindo os ganhos e garantias da força de trabalho e abrindo espaço para acabar com a CLT também em nome da tal da governabilidade. Foi bom ouvir em rede estadual e da boca do Vanazzi que se Dilma não vetar o PL 4330 haverá uma crise sem igual.

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É a profecia auto-revelada: se ela não veta o governo acaba.

 

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